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A Qualidade que não é de Vida

Capítulo 11:

A Última Página

​   A vida parecia enfim encontrar seu compasso.  Na nova morada,  Gabriel e Maria viviam dias mais calmos,  envoltos pelo som leve da cidade e o riso miúdo da pequena Helena.  Os dias de inquietação haviam dado lugar à rotina suave dos primeiros meses de um bebê; mamadas, cochilos, trocas de fraldas e sorrisos que preenchiam cada canto do lar.

   Ainda assim, o casal sentia que algo os chamava a concluir sua jornada.

   Foi numa tarde de sábado, enquanto organizavam os últimos livros da estante, que Maria encontrou o velho caderno de anotações.  A capa já desgastada e as páginas marcadas por dedos curiosos pareciam menos assustadoras agora, quase como um diário de crescimento, não apenas de uma história, mas de si mesmos.

   — Vamos até o depósito?  Só mais uma vez, sugeriu Gabriel.

   — Acho que precisamos encerrar isso com os nossos próprios olhos.

   Maria concordou.  Afinal, agora sabiam que não havia monstros escondidos, apenas sombras criadas por luzes mal direcionadas.

   Chegaram ao velho depósito no final da tarde.  A estrutura enferrujada resistia ao tempo, mas já não parecia ameaçadora.  Caminharam juntos pelo lugar, guiados pela memória das anotações e do mapa.  Encontraram o antigo cômodo mencionado por Carlos e, ali, uma caixa metálica enferrujada.

   Dentro, guardadas em silêncio há décadas, estavam algumas fotografias em preto e branco, cartas trocadas entre amigos, listas de compras para jantares e até uma receita escrita à mão de "galinhada do Clóvis".   Havia também um bilhete com caligrafia firme:

   "Para quem encontrar isso: lembrem-se de viver.  A curiosidade é bela, mas a paz é mais valiosa.  Com carinho, Pedro."

   Maria sentiu as lágrimas descerem, não de tristeza, mas de alívio.  Era como se finalmente Helena e Pedro pudessem descansar, e eles também.

   De volta à casa, Gabriel guardou o caderno em uma caixa, junto das fotos e bilhetes, como se selasse oficialmente aquela história.

   — Acho que Helena vai gostar de ouvir isso quando crescer,  disse ele.

Maria assentiu, acariciando novamente o ventre agora já levemente arredondado.

   — Vai ter muita história para contar ao irmãozinho dela.

   Gabriel sorriu.

   — E dessa vez, que sejam histórias de amor, de calma, de família.

   A cidade lá fora seguia com seu ritmo próprio.  Mas, dentro daquele lar iluminado pela luz da manhã e pela presença de quem realmente importava, o tempo parecia finalmente se aquietar.

   Faltava apenas uma última página...

​

   Santa Rosa, 20/04/2025.​

Agradecimentos/Créditos a Rummo Imóveis Ltda

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